© Francisco Vidal
Ao longo de mais de cinco séculos, homens e mulheres de origem africana, oriundos de diversas culturas, uns vindos como escravos de muitas regiões de África, outros já nascidos em Portugal, viveram em Lisboa, deixando histórias, memórias e vestígios da sua presença, e contribuindo para a construção da cidade e para a fixação dinâmica da sua identidade urbana.
© Francisco Vidal
O poema Lisabona, do poeta Luís Carlos Patraquim; a peça Museu do Pau Preto, de António Tomás; e o documentário Os lisboetas, de Sérgio Trefaut são algumas das mais diversas representações culturais contemporâneas que representam Lisboa como uma cidade pós-colonial. Todas estas produções salientam as contradições e as assimetrias por vezes ocultadas pelo discurso celebratório da lusofonia, devolvendo assim imagens da cidade, radicalmente distantes das representações de uma Lisboa tanto lusófona quanto multicultural.
© Francisco Vidal
O conceito de lugar de memória no contexto do projeto ReMapping Memories Lisboa-Hamburg
A forma como uma sociedade lida com o passado reflete-se em várias manifestações da memória cultural. Mas como é que se produz a memória cultural e onde é que esta se situa? Em sociedades pluralistas, que conceitos fazem justiça à discussão do passado? E como pode a memória ser pensada a partir de uma perspetiva pós-colonial?
© Francisco Vidal
Os legados coloniais na cidade
Quando memória e desmemória se encontram, surgem fissuras, contradições e conflitos que nos fazem tomar consciência de que não vivemos a mesma História e não temos dela uma memória comum. Na Europa pós-colonial, as fissuras causadas pelos legados coloniais são cada vez mais visíveis, porque a exigência de igualdade de direitos atingiu uma nova dimensão pós-colonial que ameaça derrubar a história da Europa e os seus monumentos.
© Francisco Vidal
Acerca do legado colonial comum das cidades portuárias de Lisboa e Hamburgo
Durante muito tempo, as cidades portuárias de Hamburgo e Lisboa contaram-se entre as metrópoles coloniais mais influentes da Europa. Foram importantes pontos de interseção na longa e violenta génese do mundo globalizado em que vivemos hoje. O legado colonial de ambas as cidades mostra uma multiplicidade de linhas de conexão.
© Francisco Vidal
O passado colonial português deixou marcas impressivas no espaço público nacional, sobretudo na cidade de Lisboa, a antiga capital do império. Estas marcas estendem-se até ao período pós-colonial, quando o império é resignificado, ora como lugar de comemoração da identidade nacional, ora como lugar da sua contestação por via da reclamação de uma memória mais justa e plural sobre o encontro colonial.
© Francisco Vidal
Enquanto cidade portuária, Hamburgo foi, em conjunto com Berlim, a metrópole colonial da Alemanha. Ainda antes da concretização formal do domínio colonial por parte do Império Alemão entre 1884 e 1919, já a cidade portuária lucrava com a expansão colonial da Europa e assumira enorme importância como centro de comércio de produtos coloniais. No período em que o Império Alemão existiu como entidade política – de 1871 a 1918/1919 – cabia a Hamburgo estabelecer a ligação entre o império e as colónias alemãs em África, na Ásia e na Oceânia, tendo-se por isso transformado numa placa giratória transnacional, ponto de confluência na mobilidade de bens coloniais e pessoas. E mesmo após a Primeira Guerra Mundial, Hamburgo permaneceu a porta da Alemanha para o mundo colonial.