TEATRO DO BAIRRO ALTO, LISBOA

Isabel Brison: Ditas e Desditas da Estatuária Lisbonense 

A estatuária de rua é ignorada diariamente por milhares de transeuntes. Figuras estáticas, permanentes, do passado, obsoletas, fazem parte da mobília, nem damos por elas. No entanto elas, de certo modo, vivem. Nascem de encomendas ou de subscrição pública, são sensíveis à poluição, ao vandalismo e às mudanças de regime. Por vezes, mudam de casa ou são obrigadas a retirar-se. Raramente morrem por completo. E na sua vida refletem, de certo modo, a forma como nós vivemos. Neste projeto, Isabel Brison cria um website que revela as histórias dessa mesma estatuária.

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Biografia da Artista

ISABEL BRISON

Estudou e estabeleceu-se como artista visual em Lisboa antes de se mudar para Sydney em 2014, onde trabalha agora principalmente como criadora de páginas web. Tem um BFA em Escultura (Universidade de Lisboa) e um MA em Ciência da Comunicação / Artes dos Media (Universidade Nova de Lisboa). As suas exposições individuais incluem o Relatório Incompleto Sobre os Usos do Impossível (2013) na Sala ao lado, Lisboa e O Futuro da Vida Urbana em Ruínas (2012) na Galeria Carlos Carvalho Arte Contemporânea, Lisboa. Exposições colectivas recentes incluem Expandido: Ficção e Fabrico em Fotografia Arquitectónica Pós-Digital (2019) no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia do MAAT, Lisboa. Também fala ocasionalmente sobre temas como arte mediática, cibercultura e, mais recentemente, arquitetura e acessibilidade da web.

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Comentário da artista

“Misturando acontecimentos históricos com narrativas ficcionais, Ditas e Desditas da Estatuária Lisbonense reúne um conjunto de histórias centradas em monumentos e conjuntos escultóricos de Lisboa. Funcionando como uma série online, é apresentada sob a forma de páginas web, compostas de texto, imagens fotográficas em maior ou menor grau manipuladas e ligações para fontes bibliográficas e outros recursos.

Trata-se de um trabalho lúdico, com aspetos deliberadamente informativos, sem se pretender esgotar nestes. A maioria das peças examinadas foram construídas durante o Estado Novo; algumas são anteriores e outras posteriores. O título é algo impreciso pois, embora se aborde maioritariamente de estatuária, uma ou outra escultura abstrata é também referida. Mais do que as esculturas em si, é a forma como ocupam e se relacionam com o espaço em que se encontram, e como nos relacionamos com elas, o motivo central de todas as histórias.

Há monumentos que são do seu tempo, outros que sobreviveram a um tempo que já não existe, outros ainda que não se consegue exatamente ler a que tempo pertencem, mas todos dizem algo sobre o tempo em que nos encontramos — pelas escolhas em os manter ou retirar do lugar, pela forma como os tratamos ou deixamos ruir. A seleção das esculturas a tratar nesta série reflete uma preferência pessoal: muitas outras histórias, reais ou imaginárias, podiam ser contadas.

A série abre com uma visita a Belém, onde encontramos vestígios da Exposição do Mundo Português de 1940 no desenho da Praça do Império, e observamos o que mudou desde então. Visitamos também duas esculturas que foram retiradas dos seus lugares na sequência do 25 de Abril de 1974, e acompanhamos a sua história até aos dias de hoje.

Episódios subsequentes levar-nos-ão do Chiado dos poetas até ao antigo polo industrial da Damaia, passando por outro espaço monumental no centro da cidade: o Parque Eduardo VII.

Escolhendo focar-me narrativamente no passado recente, e estudando peças mais e menos conhecidas, mais e menos polémicas, mais e menos politicamente relevantes, espero contribuir produtivamente para algum debate em torno destes objetos de funções decorativas, pedagógicas e celebratórias com os quais partilhamos o nosso espaço.”

Isabel Brison

Mais informações:

Artico: Repensar as estátuas de Lisboa: esta é a tarefa da artista Isabel Brison


Mais informações:

https://teatrodobairroalto.pt/espetaculo/ditas-e-desditas-da-estatuaria-lisbonense-isabel-brison-20210302/